sábado, 14 de julho de 2012

Compreendendo as diferenças: a agroecologia na modernidade e no contemporâneo


Por: Miguel Ruíz
Engenheiro Agrônomo, mestrando em 
Agronomia (FAV-UnB) e 
colaborador do PET-AGRO  
No momento em que um punhado de cientistas e historiadores do mundo ocidental determinou que no século XVI a humanidade havia passado da longa Idade Média à modernidade, se deu uma esquina civilizatória na história. Três séculos depois, marcava-se o passo para a Idade contemporânea. Grande parte dos êxitos alcançados no início da Idade moderna está ligada à revolução industrial e, com ela, a mecanização de grande parte das atividades humanas. A agricultura não ficou de fora do movimento modernista, incluindo nas suas práticas aparatos e produtos vindos da indústria química e mecânica, além do desprezo por tudo àquilo que não assumia a dita modernidade ou não tinha a oportunidade de fazê-lo. Nos séculos seguintes, o novo modelo industrial se distanciou das práticas consideradas “tradicionais” ou “estranhas”. Na primeira metade do século XX, quando cientistas de diferentes áreas identificaram problemas gerados pela industrialização, deixando em risco até a nossa própria subsistência, sofreram perseguições, não só por evidenciar a presença de interesses econômicos acima dos sociais, mas por questionarem o modelo no qual o homem-ciência estava no topo da evolução como homem mais que moderno: contemporâneo. Porém, nos séculos da modernidade e do contemporâneo, sobreviveram grupos que não seguiram os preceitos industriais e continuaram com a sua evolução, desenvolvendo outras técnicas e procedimentos, dando origem, entre outros, ao que hoje conhecemos como agroecologia ou enfoque agroecológico da agricultura. O principal argumento de ataque da ciência moderna à agroecologia é a sua rotulação como tradicional ou antiga. Argumento que pretende desconhecer a evolução paralela da agroecologia e os métodos “modernos e contemporâneos” de agricultura. Argumentos sustentados por aqueles que não queriam ou não suportavam a ideia de que outra ciência possa trabalhar o mundo agrícola de uma maneira melhor. Com as grandes evidências acumuladas no último século, contrárias às outrora incontestáveis vantagens da agricultura industrial, muitos cientistas têm tentado se enquadrar no que, para eles, deveria ser o novo rumo da agricultura, reconhecendo aos poucos os avanços da agroecologia, mas ainda plasmando nos seus escritos, concepções desqualificadoras da ciência agroecólogica. Não se poderia esperar menos de uma sociedade que ainda não consegue aceitar que o modelo no qual sustenta sua existência está em crise e, a continuar assim, vai gerar problemas ainda maiores aos atuais.

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